sexta-feira, 21 de setembro de 2012

E LIXÕES MUNICIPAIS

Pois é nisso que se transformaram as eleições. Em lixo espalhado pelas ruas, proveniente de “santinhos” e manifestos distribuídos e quase imediatamente descartados por quem os recebe. Afora a poluição visual dos incontáveis cartazes fincados nas calçadas e nos passeios públicos, até danificando-os. Além da inconveniência dos carros de som, com jingles e músicas mal-suportadas
 pelas pessoas em geral, escolas, hospitais. Sem contar os “investimentos” exagerados para chegar lá... É de se perguntar: será que os profissionais da política vão querer retorno?
Felizmente, eu disputo uma cadeira na Câmara sem apelar para isso. A campanha está limitada aos contatos pessoais e Internet. Se haverá ou não receptividade às minhas idéias, pelos eleitores, não sei. Estou consciente que fiz as opções corretas. Elas estão na minha justificativa (vitorazubel50341@blogspot.com.br). A decisão está com os eleitores.

quinta-feira, 6 de setembro de 2012

VOTAR, por Rachel de Queiroz

O voto, na concepção de Rachel de Queiroz
EM 1947, A EXCELENTE ESCRITORA RACHEL DE QUEIROZ, QUE INTEGROU A ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS EM 1977, PUBLICOU O ARTIGO A SEGUIR, QUE, EM BOA HORA, PUBLICAMOS NESTE TÃO ÚTIL ESPAÇO:

(ATENÇÃO: A REDAÇÃO É A DA ÉPOCA EM QUE FOI PUBLICADO)

VOTAR (Texto de Rachel de Queiroz. Revista O Cruzeiro, 11 de janeiro de 1947).

Não sei se vocês têm meditado como devem no funcionamento do complexo maquinismo político que se chama govêrno democrático, ou govêrno do povo. Em política a gente se desabitua de tomar as palavras no seu sentido imediato.
No entanto, talvez não exista, mais do que esta, expressão nenhuma nas línguas vivas que deva ser tomada no seu sentido mais literal: govêrno do povo.
Numa democracia, o ato de votar representa o ato de FAZER O GOVÊRNO.
Pelo voto não se serve a um amigo, não se combate um inimigo, não se presta ato de obediência a um chefe, não se satisfaz uma simpatia. Pelo voto a gente escolhe, de maneira definitiva e irrecorrível, o indivíduo ou grupo de indivíduos que nos vão governar por determinado prazo de tempo.
Escolhe-se pelo voto aquêles que vão modificar as leis velhas e fazer leis novas - e quão profundamente nos interessa essa manufatura de leis! A lei nos pode dar e nos pode tirar tudo, até o ar que se respira e a luz que nos alumia, até os sete palmos de terra da derradeira moradia.
Escolhemos igualmente pelo voto aquêles que nos vão cobrar impostos e, pior ainda, aquêles que irão estipular a quantidade dêsses impostos.
Vejam como é grave a escolha dêsses “cobradores”. Uma vez lá em cima podem nos arrastar à penúria, nos chupar a última gôta de sangue do corpo, nos arrancar o último vintém do bôlso.
E, por falar em dinheiro, pelo voto escolhemse não só aquêles que vão receber, guardar e gerir a fazenda pública, mas também se escolhem aquêles que vão “fabricar” o dinheiro. Esta é uma das missões mais delicadas que os votantes confiam aos seus escolhidos. Pois, se a função emissora cai em mãos desonestas, é o mesmo que ficar o país
entregue a uma quadrilha de falários.
Êles desandam a emitir sem conta nem limite, o dinheiro se multiplica tanto que vira papel sujo, e o que ontem valia mil, hoje não vale mais zero.
Não preciso explicar muito êste capítulo, já que nós ainda nadamos em plena inflação e sabemos à custa da nossa fome o que é ter moedeiros falsos no poder.Escolhem-se nas eleições aquêles que têm direito de demitir e nomear funcionários, e presidir a existência de todo o organismo burocrático.
E, circunstância mais grave e digna de todo o interêsse: dá-se aos representantes do povo que exercem o poder executivo o comando de tôdas as fôrças armadas: o exército, a marinha, a aviação, as polícias. E assim, amigos, quando vocês forem levianamente levar um voto para o Sr. Fulaninho que lhes fêz um favor, ou para o Sr. Sicrano que tem tanta vontade de ser governador, coitadinho, ou para Beltrano que é tão amável, parou o automóvel, lhes deu uma carona e depois solicitou o seu sufrágio - lembrem-se de que não vão proporcionar a êsses sujeitos um simples emprêgo bem remunerado.Vão lhes entregar um poder enorme e temeroso, vão fazê-los reis; vão lhes dar soldados para êles comandarem - e soldados são homens cuja principal virtude é a cega obediência às ordens dos chefes que lhe dá o povo. Votando, fazemos dos votados nossos representantes legítimos, passando-lhes procuração para agirem em nosso lugar, como se nós próprios fôssem. Entregamos a êsses homens tanques, metralhadoras, canhões, granadas, aviões, submarinos, navios de guerra - e a flor da nossa mocidade, a êles prêsa por um juramento de fidelidade. E tudo isso pode se virar contra nós e nos destruir, como o monstro Frankenstein se virou contra o seu amo e criador. Votem, irmãos, votem. Mas pensem bem antes. Votar não é assunto indiferente, é questão pessoal, e quanto! Escolham com calma, pesem e meçam os candidatos, com muito mais paciência e desconfiança do que se estivessem escolhendo uma noiva. Porque, afinal, a mulher quando é ruim, briga-se com ela, devolve-se ao pai, pede-se desquite. E o govêrno, quando é ruim, êle é quem briga conosco, êle é que nos põe na rua, tira o último pedaço de pão da bôca dos nossos filhos e nos faz aprodecer na cadeia. E quando a gente não se conforma, nos intitula de revoltoso e dá cabo de nós a ferro e fogo. E agora um conselho final, que pode parecer um mau conselho, mas no fundo é muito honesto. Meu amigo e leitor, se você estiver comprometido a votar com alguém, se sofrer pressão de algum poderoso para sufragar êste ou aquêle candidato, não se preocupe. Não se prenda infantilmente a uma promessa arrancada à sua pobreza, à sua dependência ou à sua timidez. Lembre-se de que o voto é secreto. Se o obrigam a prometer, prometa. Se tem mêdo de dizer não, diga sim. O crime não é seu, mas de quem tenta violar a sua livre escolha. Se, do lado de fora da seção eleitoral, você depende e tem mêdo, não se esqueça de que DENTRO DA CABINE INDEVASSÁVEL VOCÊ É UM HOMEM LIVRE. Falte com a palavra dada à fôrça, e escute apenas a sua consciência. Palavras o vento leva, mas a consciência não muda nunca, acompanha a gente até o inferno”.

CULTURA, UM BEM NECESSÁRIO

Vivemos tempos difíceis. Sempre os houve, mas as ameaças que nos rondam hoje alcançaram uma magnitude de tal ordem que exigem profundas análises e ações que possam reverter o processo de destruição que atinge os sistemas vivos. O ser humano, por séculos, construiu uma história de conhecimento e progresso, especialmente na área tecnológica, onde as descobertas desde os meados do século XX avançam em progressão geométrica. A partir principalmente de Descartes – “penso, logo existo” – os humanos, com preponderância do mundo ocidentalizado,   desenvolveram capacidades racionais contundentes, que estão ligadas ao hemisfério cerebral esquerdo. Com exceções, o hemisfério direito, ligado às emoções, à intuição, ao inconsciente, está sendo relegado a segundo plano, provocando desequilíbrios que se refletem no dia-a-dia das pessoas. Em trabalho monográfico de julho de 2005, relacionei 42 questões – certamente há outras – nem sempre percebidas, com as quais as sociedades são instadas a conviver e que podem contaminar o sentido da vida. Para exemplificar, citamos: lógica da acumulação – crescente onda de busca obstinada de poder e dinheiro (o novo Deus), crença no absolutismo das coisas materiais e do ter a qualquer preço (crime organizado: roubos, furtos, mortes, fraudes, subornos, corrupção, falcatruas,....); crescimento econômico inconseqüente, obsessão por números e estatísticas; dilapidação dos recursos naturais – uso e abuso intensivo do planeta, extração e redução dos materiais naturais e transformados; exacerbação do individualismo materialista, baseado em pensamento racional-utilitário. Face a isto, corroborado pela expansão demográfica e de consumo, o mundo vivo está severamente ameaçado de extinção – há estudos científicos internacionais que o comprovam – e nesse diapasão não haverá “escolhidos”, sucumbiremos todos.
            Temos alternativas?  Sim, porém é preciso que as busquemos obstinadamente. Em nível individual, social, municipal e global. Não é fácil, carecemos crer que a mudança de paradigmas é possível. A situação exige profunda mudança de prioridades e atitudes. Primeiramente, desconstruindo o processo histórico de disputa de poder e riqueza material em que há flagrante domínio da obsessão econômica seletiva .e insaciável. É fundamental, também, que revisemos os desequilíbrios impostos pela modernidade, percebendo que os estímulos competitivos, em que as desigualdades de toda ordem vêm a reboque, devem dar lugar à motivação de cooperar (operar junto!) e colaborar no sentido do desenvolvimento de todos, e não de alguns. Qualquer desequilíbrio precisa ser contrabalanceado para que se possa neutralizar os efeitos danosos da escolha de qualquer dos opostos. O pêndulo para apenas um dos lados é desestabilizador. É o que está acontecendo com a nossa sociedade. É preciso que estabeleçamos a integridade dos Seres Humanos, oportunizando o desenvolvimento do hemisfério direito de nosso cérebro, onde se localizam as emoções. E a cultura é justamente o instrumento que lhes dá vazão. De forma alternativa à racional, as emoções provocadas pelas vivências culturais constituem-se em espaços e tempos de conviver, apreciar, pensar, refletir, brincar e, sobretudo, viver com qualidade. Artes, Lazer e Turismo, por exemplo, dentre tantas outras práticas culturais, constituem-se em antídoto ao veneno inoculado diuturnamente pela mídia, especialmente a televisiva (invade todos os lares!), de desastres, desgraças, crimes, inseguranças que, além do estresse e passividade, provocam a insensibilidade pela constância rotineira dos fatos.  Não pode ser descartada a hipótese de que muitas das causas da violência estejam localizadas cingidamente na falta de convívio e acesso aos bens culturais, incluída a Educação, a qual, particularmente em nosso país, ainda é considerada prioritária apenas nos discursos, inclusive por muitos professores preocupados apenas com aspectos informativos. Acesso cultural é fator essencial de equilíbrio que por ter essa condição deve ser público. E, por ser público, deve receber incentivos promocionais e financeiros de acordo com seu real valor. Convençamo-nos todos, em defesa da cidadania e da biologia, de que não haverá paz, nem mesmo sobrevida para ninguém, se continuarmos a privilegiar o econômico sobre o social, a razão sobre a emoção, as obras materiais sobre a concretude do conhecimento, o imediatismo sobre a perenidade das ações de herança histórica, o interesse privado sobre as demandas coletivas.  Insistimos, é o equilíbrio entre os pólos positivo e o negativo que proporciona a saudável neutralidade. Cientes e conscientes do acima exposto, torna-se responsabilidade de todos nós e, incisivamente de agentes, líderes e administradores públicos e privados a adoção de medidas e políticas capazes de modificar o pernicioso quadro atual, incentivando adequadamente a promoção e os investimentos culturais. Ainda que não seja candidata em eleições, a cultura é extremamente necessária e deve obter os nossos votos de modo a ter acento definitivo dentre as prioridades sociais. É a proposta que esperamos seja aceita. Para o bem de todos.
 * Artigo publicado em 17.08.2006, pág. 4,  no Diário da Manhã de Pelotas, RS