domingo, 5 de agosto de 2012

VOTANDO, ASSIM MESMO...

O assunto é recorrente, porém é importantíssimo abordá-lo amiúde sob vários ângulos, pois estamos às portas de definir mais um processo eleitoral. E ao contrário do que preconizam os decepcionados e os alienados, precisamos desenvolver nossa capacidade de discernimento e escolha dos candidatos, ainda que estejamos enojados por tantas falcatruas, corrupção, malversação, enfim incorreções de toda ordem. Mesmo porque, de modo geral, os que se apresentam não são exatamente aquelas personalidades cujo caráter de honestidade, probidade, vocação pública, entre outros atributos, gostaríamos de eleger. E como os “bons” não querem saber de Política, tornam-se corresponsáveis, como todos nós, pela cedência dos espaços políticos, os quais são dominados por gente hábil em iludir, ludibriar, escarnecer, através de uma oratória (ah, como valorizamos os aduladores, manipuladores de palavras...) enganadora que esconde o pouco caso com os assuntos públicos e coletivos. Especialistas nesta arte, tornam-se profissionais da Política, atuam em causa própria e, adonando-se e enraizando-se aos poderes, impedem e não legitimam a necessária alternância e renovação dos quadros políticos. É bem verdade que a maioria de nós, eleitores, pouco conhece a respeito dos meandros eleitorais e das intenções dos postulantes à representação pública. Afora isso, é injustificado que se gaste tanto em propaganda política (os espaços dos partidos em rádio e TV são pagos pelos tribunais eleitorais, portanto, dinheiro público), consumo extraordinário de papel (menos árvores), poluição sonora, tome-se o tempo das pessoas para prometer “n” coisas e poucas vezes cumprir. A não ser com os compromissos assumidos com os empresários financiadores de campanhas, porta pela qual as futuras negociatas são estabelecidas. Os eleitos já tomam posse em dívida com seus patrocinadores. A regra dourada para o sucesso das candidaturas parece ser a exposição na mídia, qualquer que seja ela, a fama tem se tornado mais importante do que a reputação. Há exceções, mas o que quer a maioria dos políticos, artistas, jogadores de futebol, palhaços, dançarinas e outros aspirantes à vida pública em nosso país é acomodar-se nos ganhos (diferentemente de outras nações mais desenvolvidas cujos custos públicos são bem menores) e nas mordomias oferecidas por extravagante e inexplicável ônus para manter as estruturas administrativas (os Governos gastam nababescamente mais do que poderiam) e legislativas, especialmente estas últimas, tanto em nível federal quanto estadual. Isso acontece porque a “curtura” estabelecida é que o dinheiro público não é de ninguém, passível até de apropriações indébitas. Não só dos políticos, é solidariamente compactuada por assessores, funcionários públicos nomeados e concursados, de vários escalões, cujas benesses os mantem vigilantes aos interesses corporativos de sustentação de privilégios. São partidários, sim, mas da lei de Gerson: levar vantagem em tudo. Está valendo qualquer coisa... De outra forma, podemos colocar sob suspeição as pesquisas de opinião pública, pois quem de nós poderia afirmar serem verdadeiras uma vez que, pelo menos eu, não só agora, não conheço ninguém, nunca fui informado ou conversei com alguém que tenha sido entrevistado alguma vez. Quais são os reais objetivos destas pesquisas, manipuladas ou não? Só pode ser para direcionar o eleitor. O que convenhamos é descabido. Não nos deixemos influenciar! Uma outra fumaça paira no ar, além das provindas das queimadas irresponsáveis: a votação eletrônica seria totalmente confiável? Há possibilidades de adulteração, segundo o Desembargador e Juiz Eleitoral aposentado Ilton Dellandréa (via Internet). Todas essas questões não estão sendo levantadas para que anulemos o voto. De nada adiantaria. Com os nossos votos, procedamos de acordo com a consciência de cada um, preferencialmente com conhecimento de causa. E esperar que o processo seja lícito. Com os nossos votos, que os resultados possam trazer maiores benefícios às nossas coletividades.
                                                Vitor Azubel
Publicado no Diário Popular de Pelotas, em 01.10.2010

VAZIO POLÍTICO

Mais uma eleição passou e mais uma vez ficamos decepcionados com seu processo. Independente de postos políticos em disputa e dos  resultados, a maior parte da população e dos eleitores observou toda sorte de artimanhas e uso de marketing por parte dos candidatos para obter os votos necessários à “vitória” nas urnas. Os que triunfaram exultam porque além da titulação, terão obtido o direito de gozar de todas as mordomias e benesses que a carreira política propicia em países (o nosso também) cuja máxima democrática “governo do povo” é relativizada e serve apenas para esconder as intenções e atos do poder por parte de governantes e da estrutura política. Não saberia identificar exceções, mas está a olhos vistos que os políticos em primeiro plano servem aos seus próprios interesses e conveniências para depois pensar na sua real função de atuar em defesa das questões coletivas e públicas. Para manter-se no poder e continuar mamando no bolsa estado, usam de qualquer atitude e recurso, fazendo secundariamente seu dever funcional. Por outro lado, os partidos políticos a rigor já não se diferenciam e as siglas servem apenas para fazer alusão a antigas definições de direita e esquerda, hoje sobrepujadas pela competição de poder e riqueza que o mundo mercantilista elegeu como prioritários. A construção das chamadas alianças políticas são a prova cabal dessa busca inescrupulosa por cargos, leiloadas amiúde em troca de favores. Porém, todos eles estão de acordo em legislar e promulgar atos em atenção a seu autobenefício. O terreno político, vazio de idéias e ideologias, é farto de interesses específicos, cada grupo se julgando dono de todos os recursos nacionais, esperando se apropriar do máximo que puder, mesmo que isto destrua o País. Um egoísmo burro tomou conta dos interesses nacionais, dividindo nosso país em corporações e negócios. Os políticos, depois de eleitos, fazem o que querem e bem entendem. Simplesmente, esquecem do seu compromisso maior. De outro modo, nós, que os elegemos, dada a estrutura vigente, sequer projetamos alguma forma de exigir a postura, a seriedade e o comprometimento adequados, pelo simples fato de que uma vez estabelecidos eles não podem ser demitidos como faria qualquer organização administrativa correta, quando o servidor não corresponde. Estas e muitas outras mazelas da estrutura política nos fazem enojar dos assuntos políticos a ponto de nos alienar dessas questões. Ou não é isto que significa a abstenção de mais de 29 milhões de brasileiros (21,50%) no segundo turno da eleição para a principal função pública do país, somados ainda os mais de 7 milhões de votos nulos e brancos (6,70%)? Por isto, se diz “à boca pequena” que política não é para gente séria, é um circo montado em que os palhaços (nós) são meros coadjuvantes. Muitos de nós reclamamos, reclamamos, mas isso de nada adianta. Com efeito, estamos nos tornando analfabetos políticos, na concepção de Bertold Brecht: “O pior analfabeto é o analfabeto político. Ele não ouve, não fala, nem participa dos acontecimentos políticos. Não sabe que tudo depende da Política. O analfabeto político é tão burro que se orgulha e estufa o peito dizendo que odeia a política. Não sabe o imbecil que, da sua ignorância política, nasce a prostituta, o menor abandonado, e o pior de todos os bandidos, que é o político vigarista, pilantra, corrupto e lacaio das empresas nacionais e multinacionais." Para combater esse tipo de analfabetismo e afastar os políticos nefastos, nada melhor que pessoas verdadeiramente éticas, de bom caráter, formação ilibada e, principalmente, preocupadas com as questões públicas, sociais e coletivas saiam da clandestinidade e da omissão, passem a frequentar os lugares políticos. O MSV (movimento dos sem vergonha) vem dominando o panorama, mas há possibilidade de reversão. Missão que não é fácil, mas absolutamente necessária para que possamos trilhar melhores caminhos. Está mais do que na hora de preencher com bom conteúdo o vazio político em que nos encontramos.                       Vitor Azubel
Publicado no Diário Popular de Pelotas, em 22.11.2010         

POLITICAMENTE CORRETO

O título refere-se a uma expressão multinacional cada vez mais usada no mundo das conveniências e das manipulações, as quais vem marcando nosso tempo. O “politicamente correto” se apresenta sempre com frases e atitudes pseudobondosas e argumentos de fácil assimilação. No entanto, é fundamental desconfiar das opiniões generalizadas. Lembremos sempre da Primeira Lei de Milton: “ignorância não gera dúvidas”. Na verdade, o politicamente correto prepara o terreno de forma ideal para a desinformação e o crescimento de nossa estupidez.  Quando o politicamente correto vence, recebemos “bem” qualquer propaganda através de termos repetidos, os quais consistem em conceitos simples e imbecis. Esta será a nova opinião pública globalizada. Então, seria politicamente correto, uma Empresa mundial de bebidas veicular propaganda na qual compara o número de bebedores de seu produto com número de armas fabricadas? Embora o Ministério da Saúde não advirta sobre os malefícios causados por ambos, leva-se o público televisivo a crer que está tudo bem e as coisas boas são maioria, já que, entre outras comparações (nada a ver) a ingestão da bebida é melhor do que o prejuízo dos arsenais. Temos de rechaçar esta falsa inocência e desconstruir a facilidade de assimilação. É necessário, do mesmo modo, prevenir-se contra o disfarce vocabular. Mesmo porque parece que as duas palavras do título, no momento, não combinam. Se ao correto corresponde o irrepreensível, íntegro, honesto, digno, aos políticos sobram desconfianças, decepções, corrupção, prevaricação. A realidade mostra que existem políticos que honram seu compromisso público, no entanto, hoje, estão em minoria. Esta é a razão pela qual as pessoas de bem se desinteressam da atividade política, enojam-se dos fatos públicos que cada vez mais ocupam as páginas da Imprensa, e chegam a afirmar que a Política não é terreno para gente decente ou, se o é, o sistema trata de corromper. Entretanto, podemos acreditar que se o cidadão tem formação reta e caráter sólido, convicção de elevados objetivos, resiste à contaminação. Se não, referendaríamos o fato de que cada vez mais os cargos político-públicos vem sendo ocupados por pessoas não qualificadas, oportunistas, entre eles artistas de todos os gêneros, que se aproveitam da notoriedade e da ignorância do voto-protesto para acomodarem-se nas Cortes do Poder e suas benesses, não para cumprir exatamente a missão de servir ao público e sim para locupletar-se e aproveitar-se de suas regalias, aliás, também aprovadas nas legislaturas com interesse próprio. E assim a coletividade se vê submetida e conduzida por “profissionais” da Política que há anos freqüentam o Poder e não largam o osso, o melhor, a carne. Sim, porque eles se reservam o melhor de tudo. Para muitos, à Educação estaria reservado o papel transformador. Contudo, esse é um processo lento demais para as urgentes transformações que necessitamos. Precisamos mudar já. Para esse fim, ousemos convocar os homens e mulheres probos, honestos, de boa índole, caráter sério e digno, comprometidos com os bens públicos e as comunidades, entre outras qualidades. Gente que não dependa da Política para sustentar-se e exercite seu mandato com tempo definido sem prever aposentadoria, que exerça seu mandato integralmente e não se licencie para concorrer a outros cargos, que defenda as causas comunitárias e coletivas e não preocupado em conseguir votos através de favores pessoais, que tenha a Ética (em seu significado verdadeiro de respeito ao outro) e o compromisso de posicionar-se em atenção à melhor qualidade de vida das populações. Convocar para quê? Para que ingressem nos quadros partidários, ainda que os demasiados partidos não mais se diferenciem por suas ideologias (com raras exceções) e sejam, por enquanto, formados por interesseiros eleitorais. Para que possamos estar unidos e de acordo em transformar a Política. Ela em si tem boa finalidade, o que a desvirtua são suas operacionalizações. Pactuemos que somente com a participação de pessoas de bom caráter na Política, poderemos afirmar que politicamente e correto são termos compatíveis.
                                                   Vitor Azubel
Publicado no Diário Popular de Pelotas, em 23.05.2011

REFORMA DA CULTURA POLÍTICA

Estão em curso as discussões sobre a Reforma Política, visando já as eleições de 2012. No entanto, da mesma forma como são tomadas as decisões políticas, as resoluções ficarão restritas a “determinados” círculos de influência e poder. Permite-se, apenas, a manifestação pública para asseverar o sofisma democrático. Por aqui, discute-se o aumento do número de vereadores na Câmara Municipal; o Diário Popular registra mais de uma dezena de artigos abordando esse tema e uma audiência pública foi realizada para tal. Para quê? Após as intervenções pró e contra, os vereadores deram a entender que pouco ou nada os afastará de sua decisão pessoal ou partidária, conforme as conveniências, nem mesmo as duas pesquisas públicas que apontam ampla declinação popular pela manutenção dos atuais quinze legisladores. As mazelas políticas não se restringem ao solo brasileiro; no mundo inteiro, com raras exceções, os políticos vem sendo rechaçados em virtude dos privilégios legislados em causa própria bem como pela  formação de classe profissional mantendo-se nas esferas do poder. No país, a verdade é que a permanência desses políticos deve-se à aculturação política da grande massa de eleitores, enganados pela oratória fácil ou pelo aceno de vantagens e favores pessoais. Contam também as manobras do Poder Econômico que submete e alimenta o caráter corruptível da maioria dos políticos. Em geral, as pessoas que tem alguma formação cultural-educativa informam-se das falcatruas, sabem dos meandros na Política, mas equivocada e infelizmente se desinteressam pela mudança dos rumos políticos. Parece estar plasmado que Política não é para gente decente, por isso indivíduos capacitados, os quais fariam diferença caso assumissem algum assento político, não querem envolver-se. De outro lado, os atuais detentores de mandatos agarram-se com unhas e dentes a seus postos, obstaculizando a absoluta e necessária renovação das estruturas de poder e dos mandatos. Em que pese a inquestionável assertiva de que todos dependemos da Política, lamentavelmente poucos homens com idoneidade, éticos e corretos (carecemos de bons exemplos!) dispõem-se a dar sua contribuição pública para a moralidade das instituições. Afora isso, os cargos públicos são rateados entre partidários ou indicados por aqueles que estão nos poderes, desprezando a necessidade de contratação sob a égide técnica. Ante tais constatações, como acreditar na Política quando comprovadamente ela se afasta das demandas e das privações coletivas? Os políticos deveriam ouvir e servir o público, por um mandato ou, no máximo dois, e não servir-se do que é público ao ocupar cadeira cativa. Ou mesmo tomar rumos contrários à postulação pública de reduzir desperdícios, estruturas ineficientes, diminuição de gastos públicos, menos “pompa e circunstância”, e mais atividade, objetividade e dignidade. As comunidades precisam eleger representantes que defendam interesses para todos e não interesses localizados. Seguramente, os eleitos não o foram para atender seus partidos, um ou outro pleito de algum eleitor ou pequeno número de beneficiados. Com efeito, por que não se respeita a vontade popular? Façam-se enquetes pela Internet (já é tempo de usar essa ferramenta de rápidos resultados) e verificar-se-á que a expressiva maioria opinará pela redução de deputados estaduais, federais, senadores, ministérios e todos os cabides de emprego daí resultantes, extinção de foro privilegiado e outras benesses, viagens, inadmissíveis subvenções aos políticos, férias de trinta dias para parlamentares, promotores e juízes, farra de salários (14º e 15º), inclusive de assessores (há cerca de 20.000 funcionários no Congresso), acesso a cargos públicos exclusivamente por concurso, punição e inegibilidade para corruptos e malversação do dinheiro público, etc. Haveria mais a relatar, mas este espaço é limitado para listar as inúmeras impropriedades que a população gostaria de corrigir. Finalmente, para seguirmos em direção a melhor avaliação política e desenvolvimento do país, precisamos encarar uma reforma na cultura política e democrática, em que a postura de eleitores e eleitos esteja prioritariamente voltada a amplo benefício coletivo.                   Vitor Azubel
Publicado no Diário Popular de Pelotas, em 03.10.2011

RENOVAR E MUDAR É PRECISO...

"Educação não muda o mundo. Educação muda pessoas. Pessoas transformam o mundo!"  

O ano de 2011 está terminando. E bom que aconteça logo, pois um Novo Ano se aproxima e as esperanças realimentadas. Neste ano, parece que as crises convergiram para o mesmo tempo: superpopulação humana, pobreza e desigualdade social, abalo financeiro mundial, excesso alimentar de uns e falta de outros, demanda energética, princípio de escassez de água e petróleo, consumismo frenético, terrorismo e ameaças de guerras nucleares, o reaparecimento de doenças, escândalos envolvendo políticos, quedas de governos, corrupção incontrolada disseminada pela exacerbação do individualismo, mudanças climáticas e o aumento impressionante das catástrofes naturais e da extinção de espécies, além do agravamento da violência e distúrbios civis. Qualquer pessoa que use a inteligência pode compreender que nossa sociedade, a continuar nesse compasso, está caminhando a passos largos em direção à instabilidade generalizada. Basta ser um bom observador e perceber isso. Para reverter o processo, criar expectativas positivas e não compactuar com a destruição é fundamental nos propormos ir além, fazendo prática dos conceitos editados pelos dicionários no que se refere ao termo renovar: corrigir, consertar, mudar ou modificar para melhor, substituir por coisa nova, etc. Há quem diga que cada um de nós pouco pode fazer para mudar o atual quadro. Será mesmo? Ninguém pode tomar a iniciativa de mudar nada? Ou achamos que estas atitudes cabem somente às Administrações e Governos, onde o Poder é exercido? Há ainda os que acreditam em mudanças acentuadas a partir de propagadas previsões relativas ao ano de 2012. Teorias à parte, cada um de nós pode adotar uma mudança consciencial em que modifiquemos nossos atuais valores, determinantemente econômicos, egocêntricos e exploratórios (inclusive de uns aos outros), e passemos a adotar ações de caminhantes em um mundo passageiro, que não nos pertence, portanto não esgotável até as últimas conseqüências. Insistindo no termo renovar, podemos exercitar pessoalmente muitas atitudes: cuidar e preservar o meio ambiente (ex: separar o lixo), promover ações de conservação da Natureza (flora, fauna e áreas verdes), estar atento e influenciar em seus grupos de convívio e moradia para o engajamento de todos, inclusive quanto à ação de vigilância à ação de depredadores, inclusive dito humanos; adequar as atitudes de consumo às cabíveis necessidades sociais de todos, evitando as superficialidades que marcam a atualidade; priorizar investimentos em Educação (formativa e de qualidade) e aquisição de cultura, como instrumentos básicos de desenvolvimento pessoal e social; repensar os controles pessoais e promover sob quaisquer circunstâncias ações de adesão à paz, harmonia e diálogo sociais, desprezando a violência manifestada fisica ou moralmente em qualquer lugar (trânsito,eventos,debates,etc.); relegar defesas de classes, corporações e outros grupos que tentam manter privilégios salariais em detrimento dos demais, fato que não contribui para o equilíbrio e justiça social; entender que a cooperação e a solidariedade estão em patamar acima e constróem mais que a competição e o descaso. Poderíamos elencar muitas outras possibilidades de renovação e mudança. Há, porém, uma que merece destaque por sua importância às premissas coletivas. A ênfase se refere à influência das questões políticas, eis que todos nós, queiramos ou não, somos afetados pelas condutas e definições daqueles que exercem os Poderes e Governos. A olhos vistos, de modo geral a sociedade vem sendo prejudicada pelos maus políticos numa sistemática viciada e conduzida por gente que, mesmo não tendo nada a acrescentar, se mantém por muito tempo ou seus sucessores (dinastias) nos Poderes. No sentido de modificar este quadro, cabe a nós a decisão de renovar os mandatos mediante a possibilidade de elegermos novos postulantes, com novas idéias e ideais, jovens ou mais experientes, mormente aqueles pertencentes a pequenos partidos, os quais, sobretudo, estão compelidos a assumir comportamentos éticos, corretos e compromissados com as demandas de suas comunidades. Pelo que expusemos, cabe a cada um definir se deseja a manutenção do estilo de vida, das puras críticas e a continuidade de tudo isso que aí está, ou vai seguir o rumo de perspectivas inovadoras e construtivas.
                                                   Vitor Azubel
Publicado no Diário Popular de Pelotas, em 14.12.2011

POLÍTICA POR AMADORES

Relembrando, Política é palavra grega (politika), vinda de polis. Polis é a Cidade, entendida como a comunidade organizada, formada pelos cidadãos (politikos). A tradução latina de polis é Civitas, portanto, a Cidade como ente público e coletivo, assim como Res publica é a tradução latina de Politika. Seis séculos antes de Cristo os atenienses inventaram a democracia. Os cidadãos reuniam-se numa praça e deliberavam com amplos poderes sobre todas as questões importantes do Estado. Não havia representantes e nem separação entre governo e cidadãos, já que o poder de governar era da Assembléia. Decorridos 2600 anos, a política e a cidadania estão de mal. Há uma enorme distância entre a política como negócio profissional, da Política como instrumento de serviço público. Temos mais de 190 milhões de habitantes no Brasil e a soma de todas as pessoas que possuem poder suficiente para decidir os rumos do governo, considerando os membros dos quatro poderes de todos os entes federativos (Executivo, Legislativo e seus Tribunais de Contas, Judiciário e Ministérios Público da União, dos Estados e dos Municípios) e mais os tubarões que podem mandar mais que todos os outros juntos, talvez não chegue a meio por cento da população. Com muitos postos e pouca qualidade, não raro temos vontade de reduzir o número de representantes políticos (vereadores, deputados, senadores), dá o que pensar sobre o processo de concentração do poder e de separação entre quem realmente governa e quem paga a conta. Como reunir todo mundo numa praça para deliberar? É impraticável. A solução, até que surja outra alternativa, tem sido investir de poderes a poucos para deliberar em nome de muitos. Com isso criamos uma nova aristocracia. Essa nova aristocracia não lega os seus títulos como propriedade da família, mas especializou-se em conservar o poder profissionalizando a política. Disso resulta que os eleitos representam cada vez menos aos seus eleitores, os quais, majoritariamente, afastam-se da política como arte de governar o interesse público, torcem o nariz para a democracia e veem nas eleições apenas a oportunidade momentânea de ganho pessoal. As eleições consolidam-se,portanto, como negócio de aproveitadores, dominada pelos mais ricos e empreendedores/empresários, entre outros beneficiários de segunda linha. Essa fragilidade tem raízes na cultura política individualista e messiânica: cada um escolhe quem vai lhe salvar/conceder vantagens. Para dar o seu voto, a maioria pergunta antes o que a eleição, o eleito, o governante/governo ou o candidato vão trazer de proveito imediato para si, para a sua família, para a sua empresa, para a sua corporação.  Como resultado dessa cultura patrimonialista e pré-republicana, na qual a Corte pode dispor livremente do Tesouro, desde que seja para favorecer o seu cliente, prioriza-se o interesse particular e não o que é de todos (res publica, interesse público). Herança genética das monarquias ibéricas, isso nos leva à doença crônica e degenerativa da nossa democracia: o clientelismo, que torna natural a troca de favores por votos, o que, por sua vez, faz das eleições um negócio como outro qualquer, no qual se investe dinheiro pesado.  Isso desemboca, por fim, em governos que precisam realimentar o ciclo do financiamento das campanhas cada vez mais caras, a fim de manter o poder, objetivo final de todo o empreendimento político. E como todo empreendimento, a política se torna cada vez mais profissional, virtual e cartelizada. Por enquanto, a Política é praticada desta forma.  Como negócio profissional é uma degeneração do sistema que adotamos. Motivo pelo qual se costuma dizer que “não é para amadores”. Por outro lado, levando ao pé da letra a expressão grifada, pode-se deduzir que Política não é para pessoas que amam. Como todos sabemos, o amor fraternal inclui respeito, dedicação, interesse pelo outro(s), ética, sentimento e dedicação em que o objetivo maior é prioritariamente fazer o bem. Desta forma, precisaríamos substituir os profissionais (velhas raposas, carreiristas, altas remunerações) da Política por amadores (de amor) com conhecimento de causa, independentes economicamente, gente que esteja compromissada com o(s) coletivo(s) e, dedicados, cumpram a missão (delegada pelos eleitores) de atuar e colaborar para o interesse público. Por isso, a renovação em todos os cargos políticos é absolutamente necessária e recomendável para oportunizar a outorga de poderes a candidatos inovadores.
                         
Publicado no Diário Popular de Pelotas em 17.04.2012