Relembrando, Política é palavra grega (politika), vinda de polis. Polis é a Cidade, entendida como a comunidade organizada, formada pelos cidadãos (politikos). A tradução latina de polis é Civitas, portanto, a Cidade como ente público e coletivo, assim como Res publica é a tradução latina de Politika. Seis séculos antes de Cristo os atenienses inventaram a democracia. Os cidadãos reuniam-se numa praça e deliberavam com amplos poderes sobre todas as questões importantes do Estado. Não havia representantes e nem separação entre governo e cidadãos, já que o poder de governar era da Assembléia. Decorridos 2600 anos, a política e a cidadania estão de mal. Há uma enorme distância entre a política como negócio profissional, da Política como instrumento de serviço público. Temos mais de 190 milhões de habitantes no Brasil e a soma de todas as pessoas que possuem poder suficiente para decidir os rumos do governo, considerando os membros dos quatro poderes de todos os entes federativos (Executivo, Legislativo e seus Tribunais de Contas, Judiciário e Ministérios Público da União, dos Estados e dos Municípios) e mais os tubarões que podem mandar mais que todos os outros juntos, talvez não chegue a meio por cento da população. Com muitos postos e pouca qualidade, não raro temos vontade de reduzir o número de representantes políticos (vereadores, deputados, senadores), dá o que pensar sobre o processo de concentração do poder e de separação entre quem realmente governa e quem paga a conta. Como reunir todo mundo numa praça para deliberar? É impraticável. A solução, até que surja outra alternativa, tem sido investir de poderes a poucos para deliberar em nome de muitos. Com isso criamos uma nova aristocracia. Essa nova aristocracia não lega os seus títulos como propriedade da família, mas especializou-se em conservar o poder profissionalizando a política. Disso resulta que os eleitos representam cada vez menos aos seus eleitores, os quais, majoritariamente, afastam-se da política como arte de governar o interesse público, torcem o nariz para a democracia e veem nas eleições apenas a oportunidade momentânea de ganho pessoal. As eleições consolidam-se,portanto, como negócio de aproveitadores, dominada pelos mais ricos e empreendedores/empresários, entre outros beneficiários de segunda linha. Essa fragilidade tem raízes na cultura política individualista e messiânica: cada um escolhe quem vai lhe salvar/conceder vantagens. Para dar o seu voto, a maioria pergunta antes o que a eleição, o eleito, o governante/governo ou o candidato vão trazer de proveito imediato para si, para a sua família, para a sua empresa, para a sua corporação. Como resultado dessa cultura patrimonialista e pré-republicana, na qual a Corte pode dispor livremente do Tesouro, desde que seja para favorecer o seu cliente, prioriza-se o interesse particular e não o que é de todos (res publica, interesse público). Herança genética das monarquias ibéricas, isso nos leva à doença crônica e degenerativa da nossa democracia: o clientelismo, que torna natural a troca de favores por votos, o que, por sua vez, faz das eleições um negócio como outro qualquer, no qual se investe dinheiro pesado. Isso desemboca, por fim, em governos que precisam realimentar o ciclo do financiamento das campanhas cada vez mais caras, a fim de manter o poder, objetivo final de todo o empreendimento político. E como todo empreendimento, a política se torna cada vez mais profissional, virtual e cartelizada. Por enquanto, a Política é praticada desta forma. Como negócio profissional é uma degeneração do sistema que adotamos. Motivo pelo qual se costuma dizer que “não é para amadores”. Por outro lado, levando ao pé da letra a expressão grifada, pode-se deduzir que Política não é para pessoas que amam. Como todos sabemos, o amor fraternal inclui respeito, dedicação, interesse pelo outro(s), ética, sentimento e dedicação em que o objetivo maior é prioritariamente fazer o bem. Desta forma, precisaríamos substituir os profissionais (velhas raposas, carreiristas, altas remunerações) da Política por amadores (de amor) com conhecimento de causa, independentes economicamente, gente que esteja compromissada com o(s) coletivo(s) e, dedicados, cumpram a missão (delegada pelos eleitores) de atuar e colaborar para o interesse público. Por isso, a renovação em todos os cargos políticos é absolutamente necessária e recomendável para oportunizar a outorga de poderes a candidatos inovadores.
Publicado no Diário Popular de Pelotas em 17.04.2012
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