domingo, 5 de agosto de 2012

VAZIO POLÍTICO

Mais uma eleição passou e mais uma vez ficamos decepcionados com seu processo. Independente de postos políticos em disputa e dos  resultados, a maior parte da população e dos eleitores observou toda sorte de artimanhas e uso de marketing por parte dos candidatos para obter os votos necessários à “vitória” nas urnas. Os que triunfaram exultam porque além da titulação, terão obtido o direito de gozar de todas as mordomias e benesses que a carreira política propicia em países (o nosso também) cuja máxima democrática “governo do povo” é relativizada e serve apenas para esconder as intenções e atos do poder por parte de governantes e da estrutura política. Não saberia identificar exceções, mas está a olhos vistos que os políticos em primeiro plano servem aos seus próprios interesses e conveniências para depois pensar na sua real função de atuar em defesa das questões coletivas e públicas. Para manter-se no poder e continuar mamando no bolsa estado, usam de qualquer atitude e recurso, fazendo secundariamente seu dever funcional. Por outro lado, os partidos políticos a rigor já não se diferenciam e as siglas servem apenas para fazer alusão a antigas definições de direita e esquerda, hoje sobrepujadas pela competição de poder e riqueza que o mundo mercantilista elegeu como prioritários. A construção das chamadas alianças políticas são a prova cabal dessa busca inescrupulosa por cargos, leiloadas amiúde em troca de favores. Porém, todos eles estão de acordo em legislar e promulgar atos em atenção a seu autobenefício. O terreno político, vazio de idéias e ideologias, é farto de interesses específicos, cada grupo se julgando dono de todos os recursos nacionais, esperando se apropriar do máximo que puder, mesmo que isto destrua o País. Um egoísmo burro tomou conta dos interesses nacionais, dividindo nosso país em corporações e negócios. Os políticos, depois de eleitos, fazem o que querem e bem entendem. Simplesmente, esquecem do seu compromisso maior. De outro modo, nós, que os elegemos, dada a estrutura vigente, sequer projetamos alguma forma de exigir a postura, a seriedade e o comprometimento adequados, pelo simples fato de que uma vez estabelecidos eles não podem ser demitidos como faria qualquer organização administrativa correta, quando o servidor não corresponde. Estas e muitas outras mazelas da estrutura política nos fazem enojar dos assuntos políticos a ponto de nos alienar dessas questões. Ou não é isto que significa a abstenção de mais de 29 milhões de brasileiros (21,50%) no segundo turno da eleição para a principal função pública do país, somados ainda os mais de 7 milhões de votos nulos e brancos (6,70%)? Por isto, se diz “à boca pequena” que política não é para gente séria, é um circo montado em que os palhaços (nós) são meros coadjuvantes. Muitos de nós reclamamos, reclamamos, mas isso de nada adianta. Com efeito, estamos nos tornando analfabetos políticos, na concepção de Bertold Brecht: “O pior analfabeto é o analfabeto político. Ele não ouve, não fala, nem participa dos acontecimentos políticos. Não sabe que tudo depende da Política. O analfabeto político é tão burro que se orgulha e estufa o peito dizendo que odeia a política. Não sabe o imbecil que, da sua ignorância política, nasce a prostituta, o menor abandonado, e o pior de todos os bandidos, que é o político vigarista, pilantra, corrupto e lacaio das empresas nacionais e multinacionais." Para combater esse tipo de analfabetismo e afastar os políticos nefastos, nada melhor que pessoas verdadeiramente éticas, de bom caráter, formação ilibada e, principalmente, preocupadas com as questões públicas, sociais e coletivas saiam da clandestinidade e da omissão, passem a frequentar os lugares políticos. O MSV (movimento dos sem vergonha) vem dominando o panorama, mas há possibilidade de reversão. Missão que não é fácil, mas absolutamente necessária para que possamos trilhar melhores caminhos. Está mais do que na hora de preencher com bom conteúdo o vazio político em que nos encontramos.                       Vitor Azubel
Publicado no Diário Popular de Pelotas, em 22.11.2010         

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