O assunto é recorrente, porém é importantíssimo abordá-lo amiúde sob vários ângulos, pois estamos às portas de definir mais um processo eleitoral. E ao contrário do que preconizam os decepcionados e os alienados, precisamos desenvolver nossa capacidade de discernimento e escolha dos candidatos, ainda que estejamos enojados por tantas falcatruas, corrupção, malversação, enfim incorreções de toda ordem. Mesmo porque, de modo geral, os que se apresentam não são exatamente aquelas personalidades cujo caráter de honestidade, probidade, vocação pública, entre outros atributos, gostaríamos de eleger. E como os “bons” não querem saber de Política, tornam-se corresponsáveis, como todos nós, pela cedência dos espaços políticos, os quais são dominados por gente hábil em iludir, ludibriar, escarnecer, através de uma oratória (ah, como valorizamos os aduladores, manipuladores de palavras...) enganadora que esconde o pouco caso com os assuntos públicos e coletivos. Especialistas nesta arte, tornam-se profissionais da Política, atuam em causa própria e, adonando-se e enraizando-se aos poderes, impedem e não legitimam a necessária alternância e renovação dos quadros políticos. É bem verdade que a maioria de nós, eleitores, pouco conhece a respeito dos meandros eleitorais e das intenções dos postulantes à representação pública. Afora isso, é injustificado que se gaste tanto em propaganda política (os espaços dos partidos em rádio e TV são pagos pelos tribunais eleitorais, portanto, dinheiro público), consumo extraordinário de papel (menos árvores), poluição sonora, tome-se o tempo das pessoas para prometer “n” coisas e poucas vezes cumprir. A não ser com os compromissos assumidos com os empresários financiadores de campanhas, porta pela qual as futuras negociatas são estabelecidas. Os eleitos já tomam posse em dívida com seus patrocinadores. A regra dourada para o sucesso das candidaturas parece ser a exposição na mídia, qualquer que seja ela, a fama tem se tornado mais importante do que a reputação. Há exceções, mas o que quer a maioria dos políticos, artistas, jogadores de futebol, palhaços, dançarinas e outros aspirantes à vida pública em nosso país é acomodar-se nos ganhos (diferentemente de outras nações mais desenvolvidas cujos custos públicos são bem menores) e nas mordomias oferecidas por extravagante e inexplicável ônus para manter as estruturas administrativas (os Governos gastam nababescamente mais do que poderiam) e legislativas, especialmente estas últimas, tanto em nível federal quanto estadual. Isso acontece porque a “curtura” estabelecida é que o dinheiro público não é de ninguém, passível até de apropriações indébitas. Não só dos políticos, é solidariamente compactuada por assessores, funcionários públicos nomeados e concursados, de vários escalões, cujas benesses os mantem vigilantes aos interesses corporativos de sustentação de privilégios. São partidários, sim, mas da lei de Gerson: levar vantagem em tudo. Está valendo qualquer coisa... De outra forma, podemos colocar sob suspeição as pesquisas de opinião pública, pois quem de nós poderia afirmar serem verdadeiras uma vez que, pelo menos eu, não só agora, não conheço ninguém, nunca fui informado ou conversei com alguém que tenha sido entrevistado alguma vez. Quais são os reais objetivos destas pesquisas, manipuladas ou não? Só pode ser para direcionar o eleitor. O que convenhamos é descabido. Não nos deixemos influenciar! Uma outra fumaça paira no ar, além das provindas das queimadas irresponsáveis: a votação eletrônica seria totalmente confiável? Há possibilidades de adulteração, segundo o Desembargador e Juiz Eleitoral aposentado Ilton Dellandréa (via Internet). Todas essas questões não estão sendo levantadas para que anulemos o voto. De nada adiantaria. Com os nossos votos, procedamos de acordo com a consciência de cada um, preferencialmente com conhecimento de causa. E esperar que o processo seja lícito. Com os nossos votos, que os resultados possam trazer maiores benefícios às nossas coletividades.
Vitor Azubel
Publicado no Diário Popular de Pelotas, em 01.10.2010
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